Por desígnios da Natureza, o Equinócio deu-se e, assim de repente, a
Primavera quer florescer, não se sabendo bem onde, neste recanto com mingua de
canteiros.
E quantos terão visto o eclipse? Com o capacete que por aqui paira, o sol é
uma metáfora. Mas, quantos se terão perguntado como isto tudo, não sendo do
dono disto tudo, é tão profusamente natural, cósmico, universal? E no entanto,
sendo-o, opta-se pela parte em vez do todo.
Aí, onde não há som nem gravidade, onde tudo permanece impassível seguindo
a ordem natural, não chegam notícias dos eventos deste planeta e, mesmo que
chegassem, não chegariam. O verdadeiro Universo é uma indizibilidade com as
suas convulsões próprias que se desassemelham ao que se passa neste pequeno
planeta que habitamos, poucas de origem natural, demasiadas de origem humana.
Vivemos atolados em nós, nos universos que edificamos, no histriónico que
abafamos, no desprezo pela sorte que temos, quase sempre ingratos. E assim,
neste nosso pequeno planeta onde, por vezes, se questionará a humanidade dos
humanos, pequeno mundo cosmocêntrico, míope, que insistimos em mais o
apequenar, enquanto a vida percorre as idades todas, uns aproveitando-a outros
nem por isso.
Sobram palavras espalhadas pelo chão, desperdícios de vidas dos subúrbios
de tantos lugares pintados de silêncios, tão óbvios quanto as omissões
praticadas por gentes que vivem abertas dentro de aquários dourados,
borbulhando intenções inconclusivas.
Isto é o mundo que nos rodeia, como a água rodeia ilhas e, apesar disso, há
nesse mar uma frieza que arde na pele, como a indiferença do género humano,
pontilhada aqui e ali por encontros e momentos onde a luz da empatia alumia
bruxuleante e fugaz, projectos de esperança.
E no entanto, nada disto atinge o que quer que seja senão os próprios. Tudo
o resto permanece ignaro, distante, impassível e indiferente. Porque tudo é uma
subjectividade, uma relatividade e apenas isso.
Talvez a Primavera traga no vento sementes de vontades em tudo fecundar e,
assim sendo, possam germinar realidades concretas que tragam a este lugar a fertilização
das esperanças que tantos almejam, para que às suas vidas se acrescente alguma
qualidade, felicidade maior que aquela que lhes é dado ter nesta urbe antiga e acolhedora.
Por ora, enquanto a esperança persiste, o governo prepara-se para anunciar
as intenções das suas linhas de acção, enquanto poetas e escritores falam para
uma audiência que se desejaria maior, não fossem outras concorrências levarem
gente para outras bandas, perante a impassibilidade do todo.
Às vezes a Primavera é assim.
Uma Primavera muito cinzentona.
ResponderEliminarE não estou a pensar só no tom do céu...
Um abraço