"Uma folha quando cai, retorna à raiz".
Este ditado chinês é também metáfora, proponente de um
percurso natural que anuncia o ciclo, isto é, o planeamento que a Natureza
opera sobre si mesma. Planeamento que a ideia de cidade deveria integrar,
sobretudo no século XXI.
Macau neste século é outra cidade, fruto de uma outra
forma de olhar, circunscrita à sua escala, mas almejando outra dimensão. Porém,
por muito que se deseje, "santos da casa não fazem milagres", tal
ainda não ocorreu.
Neste mês de Maio decorrem em duas cidades de Itália dois
eventos internacionais. Desde 1 de Maio a Exposição Mundial de Milão 2015 e,
aberta dia 9, a Bienal de Veneza. Em plena crise europeia, duas cidades
tornam-se montra do mundo, o que faz trazer à mesa das ideias a necessidade de
uma retorta e de um catalizador para este velho Entreposto na costa meridional
da China.
A urgente emergência de uma vontade política, decorrente
da compreensão de Macau enquanto Centro de Exposições e Convenções, aposta para
a diversificação económica, poderá ser simultaneamente a retorta e o
catalizador para a capacidade da sua reformulação enquanto cidade case study. Olhada de fora para dentro,
em diálogo de osmoses que possam operar um plano geral de ordenação, a cidade pode
ser pensada com a maturidade que ela mesma requer.
Suponhamos que seria possível realizar uma Expo Ásia em
Macau. Tal constituiria não apenas um desafio para todas as frentes que compõem
a cidade, mas sobretudo a incontornável planificação entre o que é Património e
o que, sendo novo, pode (e deve) ter qualidade.
A folha regressando à raiz requer uma reorganização
sustentada da cidade, que possa ser o palco de todos os sonhos e utopias a
haver, sem derrapagens, assente na mobilização de equipas internacionais de
economistas, sociólogos, antropólogos, arquitectos, engenheiros, técnicos de
saúde, de marketing, design, gestão, recursos humanos que ajudem a reorganizar
esta pérola do delta do mesmo nome.
Porque esta cidade merece ser celebrada e, para o ser,
requer o ímpeto de um leit motiv
eivado de civilidade e cultura para que possam definitivamente ser
estabelecidas orientações consensuais, entre quem manda e quem é especialista,
numa convergência premente para reformatação do que ainda está informe e
descarrilado.
A cidade precisa de know how especializado, capaz de
organizar, treinar, propor e realizar.
Acresce que o gosto não é nem uma interpretação nem uma
miscigenação. O gosto e a qualidade de vida são opções decorrentes da
capacidade de absorção, da capacidade de conjugação da(s) cultura(s). Daí a
osmose. Por isso, também, a necessidade de treino no exterior de quem tem
responsabilidades de decisão, a necessidade de serem fluentes, no mínimo, em
duas línguas, seja inglês ou português, porque importante a abertura das mentes
ao mundo para que esta cidade não seja um lugar de alguns, mas um lugar
construído por alguns para todos.
Utopia é acreditar que a cidade poderá ter uma economia
diversificada, que se tornará um centro mundial de turismo e lazer, quando o
que de mais básico e necessário para a qualidade de vida do cidadão está por
fazer.
Há que proceder ao equilibrado resgate de tudo isto e,
utopia por utopia, prefiro as que visam uma abordagem global das questões e, de
forma holística, apontem as soluções.
A cidade, a primazia dos seus habitantes, merece uma
utopia em nome da excelência que, sem dúvida, todos de boa fé desejam. Que
todos, tal como a folha, venham trazer algo mais à raiz desta cidade.
"para que esta cidade não seja um lugar de alguns, mas um lugar construído por alguns para todos"
ResponderEliminarNum outro prisma, de outra forma, abordo hoje o mesmo tema.
É mais que tempo de limpar algumas teias de aranha que teimam em permanecer, abrir as janelas, deixar entrar ar fresco.
Nem que, como ensinava Deng Xiaoping, entrem também algumas moscas.
Um abraço
Outro abraço caro amigo.
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