Em 1046 a.C., há cerca de 3.500 anos, em plena Idade do
Bronze, os Shang travavam a mais crucial batalha contra os Zhou, onde é hoje a
província de Henan, na bacia do Rio Amarelo, berço da civilização chinesa.
A batalha de Muye opôs o exército dos Shang, de 700.000
homens, contra os Zhou, possuidores de uma força de 4.000 carros de guerra e
48.000 homens, ditando a queda dos primeiros.
Esta batalha iria dar origem à mais longa dinastia da
China, a dos Zhou, nada mais que 790 anos (1046 - 256 a.C.), dividindo-se em
complicados sub-períodos, nem por isso menos interessantes.
É no período chamado “Primavera e Outono” (770 a.C. – 476
a.C.) que se afirmam, na falta de outro termo, as quatro escolas filosóficas
chinesas: o Taoísmo, o Confucionismo, o Mozismo e o Legalismo.
Conta a lenda que Lao Tzu, antes de transpor as portas de
Luoyang para desaparecer no horizonte Ocidental, deixou escrito o Tao te Qing,
os fundamentos do Taoísmo, que contém este belo trecho, entre tantos outros:
"Havia algo de indeterminado antes do nascimento do
Universo.
Essa qualquer coisa vagueia sem cessar.
Como não lhe conheço o nome, chamo-lhe Tao (Caminho, Via)
Com um nome deve ser a Mãe de todas as coisas
Sem nome, é o Antepassado dos deuses".
Do legado Taoísta, à benevolência do Confucionismo,
segue-se a entrada do Budismo na China dos Han (206 a.C. - 220 d.C.) pela Rota
da Seda, estabelecendo-se uma como que trindade de crenças, onde ao conceito
cósmico, dinâmico e abstracto do Taoísmo se conjugam os princípios éticos do
Confucionismo e a oportunidade da extensão temporal por via da crença Budista
na roda das encarnações.
No Império do Meio o tempo passa a ter uma outra dimensão.
O tempo do tempo
Das altas montanhas debruadas de nuvens, às magnificentes
capitais e à grandeza dos seus inventos, dir-se-ia que toda a longa história da
China parece ter sido tecida - pura ilusão - para desembocar num conceito que
lhe era exógeno, o da República.
A República mais não significou que a primeira tentativa
de resgate de um sistema decadente e corrupto cujo final, protagonizado pela
Regente Ci Xi, mostrou a distância e o alheamento com que o Império era
(des)governado.
Após o período revolucionário liderado por Mao Zedong, a
China percorre em 30 anos, como país mais populoso do mundo, um caminho em
direcção ao que Deng Xiao Ping apontou: "Socialismo não tem de significar
pobreza". E nos subsequentes planos quinquenais e no estabelecimento do
princípio Um País Dois Sistemas conduzem com firmeza o país a uma Economia
Socialista de Mercado, um dos conceitos-chave que iriam, num curtíssimo período,
criar uma classe média de 400 milhões, uma classe milionária assinalável, e
colocar a economia chinesa no topo da escala mundial. Apesar dos quase 100
milhões que vivem ainda abaixo da linha de pobreza, das migrações e da sustentabilidade
ambiental constituírem um desafio para o governo central, a República Popular
da China é hoje uma presença mundialmente poderosa.
Este breve olhar sobre a história milenar de um país que,
nas últimas décadas, assistiu a uma transformação quase ímpar no desenrolar da
história do mundo, fez-me lembrar um outro, no Extremo Ocidental da Europa,
que, também há poucas décadas, teve o ensejo de se poder metamorfosear em um
país democrático, moderno e desenvolvido, mas, dessa Primavera, resta-lhe
apenas, apesar do céu azul, um ar Outonal.
Saímos do Inverno do nosso descontentamento, passámos por muitos Outono, ansiamos por uma Primavera que tarda.
ResponderEliminarMas que não seja semelhante a outras Primavera que foram vendidas como plenas de mel e flores a acabaram por se revelar pasto de espinhos e morte.