quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O MEDO


Não se sabe quando foi inventado o medo. Provavelmente com o primeiro trovão, ou com o primeiro tremor de terra.
Com o tempo o medo foi-se constituindo numa arma, como por exemplo a fogueira da Santa Inquisição (ou confessas a bem ou confessas a mal), ou os interrogatórios dos diversos serviços secretos com serviço de manicure, pedicure e dentista.
Ontem assisti ao debate entre Passos Coelho e António Costa, e embora seja praticamente unanime que António Costa ganhou o debate, o que ficou patente, apesar de o primeiro-ministro agitar a imagem de Sócrates com aquela inocência de quem não comenta questões da esfera da Justiça, ficou mais uma vez a repetir a mesma coisa, igual a tantas outras, onde o argumento do medo foi usado, foi brandido. O medo do papão, o medo que o povo deve ter dos progressistas, que ele e o Portas - que deixaram o país com uma dívida muito maior do que aquela que herdaram - viram como o povo português se sacrificou para atingir o patamar em que estão, e para o qual apetece dizer que mal fez o povo para falarem em nome dele que o esmifraram mais ainda do que a Troika queria.
Eis o medo a ser usado como arma: "olhem, cuidado, nós construímos isto, recuperámos e temos o país em crescimento (exportámos milhares de enfermeiros, de jovens estudandes, de médicos e outros especialistas, demos cabo do Serviço Nacional de Saúde, liquidámos a cultura, a educação, a saúde, a justiça está tudo um caos). Se forem votar no aventureirismo do Costa, vejam lá, vejam lá no que se metem. Olhem para nós, somos tão penteadinhos, o Portas vai a todas as feiras. Não se deixem enganar".
Pois a mim custa-me viver com medo. Não quero viver com medo! Não gosto que me metam medo, não tenho medo, portanto calem-se porque já estão insuportáveis e esta mania de falar em nome do povo português irrita-me. Não vos passei procuração alguma para falarem em meu nome e duvido que a maioria dos portugueses o tenha feito.
Finalmente lamento que a RTP (quem manda lá, quem é?) não tenha transmitido para as comunidades fora de Portugal o debate que, felizmente, ouvi na Antena 1.
E sabem que mais? Depois dos escândalos BPN do Oliveira e Costa e do BES do dono disto tudo, mais o pedido de extradição do Duarte Lima, a demissão de Miguel Macedo, o estranho caso dos submarinos que poderia ser passado para Banda Desenhada sem contar com o Isaltino, é estranhíssimo que o ex-primeiro-ministro José Sócrates tenha ficado 10 meses ou quase, à sombra em Évora. Malhas que a (porca da) política tece, dez mil euros não chegam ao Cavaco, mas 350 euros hão-de ter de chegar aos idosos e menos ainda a 25% por cento da população que perdeu o emprego.
É muita a desfaçatez, mas não tenho medo e gostaria que todos deixassem de lado esse sentimento, porque os papões só papam se nós deixarmos.
E veja a RTP se se redime que eu sou português, com idade de votar e quero ver os debates, ou será que até nisto há filhos e enteados?
  

2 comentários:

  1. Eu não vi nem ouvi o debate.
    Tenho lido e ouvido as mais diversas análises.
    Mas há quase unanimidade no facto de António Costa (que se diz jogou ao ataque) ter ganho a um Passos Coelho muito na retranca (está no sangue).
    Chega para descolar e fazer adivinhar o vencedor das próximas legislativas?
    Não acredito.
    Sócrates andou por lá sem nunca lá ter estado.
    E António Costa demarcou-se claramente dele (já ia preparado para o tema).
    Sócrates que devia, como todos os outros casos que aqui cita, ser apenas um caso de justiça e nunca tema de campanha.

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