No período pós-eleitoral, Portugal debate-se com a
questão da indigitação de Cavaco, buscando delimitar alternativas com base nas
questões estruturantes do País.
Assiste-se nos media
a debates sobre questões estruturais e estruturantes, envolvendo partidos que
discutem situações com sustentabilidade ou não.
Formam-se facções, fortalecem-se opiniões, e comentadores
prós ou contra a esquerda ou a direita manifestam-se abundantemente.
O que porém ressalta como imediata conclusão é que existe
um grau de inteligência em todos os quadrantes políticos e as tomadas de
posição exprimem posições mais claras enquanto outras se mantêm reservadas,
aguardando ocasião mais propícia.
Assim é a característica do exercício político. Ainda
assim existem um palco, uma audiência e uma consciência ao nível dos
protagonistas.
Sucede que por cá o protagonismo desenrola-se de maneiras
peculiares.
O calculismo, em Macau, não é uma questão renal. O
calculismo é, em Macau, um gato escondido com o rabo de fora. Mas também de
ambições pessoais. E também do exercício do nonsense!
Veja-se o que se propõe a debate na primeira sessão de trabalhos da Assembleia
Legislativa da RAEM, a arrancar na próxima sexta-feira.
A questão primeira e suprema vai ser colocada através de
uma pergunta: "Por forma a aumentar a rotatividade nos parques de
estacionamento públicos, o Governo deve ou não cancelar os respectivos passes
mensais, permitindo que o público utilize os lugares de estacionamento em
causa?".
Debrucemo-nos sobre este debate que, para o ser, não se
deveria iniciar com uma pergunta de resposta sim ou não, por muito que o
Cantonense use a afirmativa e a negativa. Uma posição começa com um ideário
consistente, que se firma numa ideia coerente, organizada, o que parece não ser
o caso.
Pede-se que as medidas (leia-se cancelamento de passes
mensais) a tomar para os parques, que são públicos, permitam " que o
público utilize os lugares de estacionamento em causa". A questão é redundante,
mas, assim posta, faz pensar se porventura os passes mensais são detidos por abusadores
TNRs, turistas do Continente em trânsito, ou jogadores temporários de salas
VIP.
Alguns senhores do hemiciclo estão sinceramente preocupados
com o estacionamento, mas não gostam daquela parte do público que possui
legalmente passes, que tem direitos adquiridos. Pensam que os carros
tranquilamente estacionados deveriam formar uma espécie de carrossel, em
permanente movimento, talvez para reforço da ideia de cidade de entretenimento
e lazer!
Contudo, não se conhece uma proposta fundamentada de
circulação periférica, de controlo de viaturas em circulação, de limitação da
entrada de novas viaturas neste “carrossel” ou “poço do inferno”. Também nada
se ouve sobre a eventual obrigatoriedade de todos os prédios em construção terem
parques para todos os condóminos.
Esses senhores deputados estão interrogativamente
preocupados com os passes, não com os seus portadores, não com a poluição dos
veículos, não com a enxurrada de carros que ao longo dos últimos anos verteu
sobre Macau.
Seria de esperar um pouco mais. Seria de esperar que para
o debate inicial da legislatura fossem apresentadas ideias e propostas de
defesa do interesse público, a começar por políticas ambientais, problema
premente aqui e na arena internacional. Seria de esperar que fossem
apresentadas medidas e soluções para o trânsito caótico e consequente falta de
qualidade de vida. Mas não, estão preocupados com os passes dos parques
públicos. Tout court.
Aplaudo entusiasticamente a ideia do senhor deputado Chan
Meng Kam em se construírem parques inteligentes como existem noutras paragens. É,
indubitavelmente, um contributo para a solução do problema, ao contrário da
proposta do carrossel apresentada pelos seus colegas.
A este propósito, indago-me se seria oportuno perguntar
se também alguns dos senhores deputados não deveriam dar lugar a outros,
seguindo o sistema de rotatividade. Perdoe-se-me a pergunta, mas é tão legítima
como a outra.
Só mais uma prova que em Macau não se discute política na Assembleia.
ResponderEliminarDiscutem-se questiúnculas, interesses sectoriais, corporativos.
Por outras palavras... alfinetes e clips :)
ResponderEliminar