A ignorância não é um argumento.
Nem todos
os textos nascem para a literatura, porque esse não é nem o seu objectivo nem a
sua natureza. São textos operários, de obra. Servem sobretudo para revelar as
insuficiências urbanas, oferecendo soluções e, assim, almejar para que a cidade
melhor se qualifique.
Em Cidadania
o geral importa tanto quanto o detalhe, porque também aí habita a qualidade.
Quase sempre a qualidade casa-se com a auto-exigência do mais ínfimo pormenor.
É assim
que o saber de cada métier é, como em
tudo na vida, fundamental. Mesmo que alguns achem que são minudências.
Vem isto a
propósito de, um dia destes, no piso de um edifício novo, onde nasce um saguão,
por queixa do vizinho do andar de baixo onde pingava água - mas que bem
construídas são certas casas novas de Macau - entrarem pela porta dentro alguns
operários para resolverem a situação. Nada mais simples. Desataram a escavacar
todo o piso e, de permeio, rebentaram a canalização e um cabo de electricidade. Assim, à bruta, tudo
a eito!
Num outro
local, em obras de reparação, com pó por
todo o lado, chega a brigada da pintura. Sem limpeza prévia do espaço, foi tudo
à frente, desatando a pintar por cima de toda a sujidade. Chamado o encarregado,
diz que não é com ele. É assim! Uns pintam, outros lavam as mãos.
Perante
estes casos demonstrativos de que, há muito, a mão de obra de qualidade,
daquela que sabia fazer toda a espécie de trabalhos de construção, foi substituída
por gente que não sabe ou não quer saber e parece nunca ter ouvido falar de
brio profissional.
Há duas
formas de ganhar a malga de arroz: com desinteresse e desconhecimento ou com
saber.
Os
chamados operários não têm qualquer formação específica, sendo a maioria proveniente
do outro lado da fronteira. Os disponíveis ao cidadão comum são maioritariamente
os que não conseguiram trabalho no Cotai.
Seria de
enorme mais valia que se criasse uma Escola Técnica e se abrissem cursos de
formação profissional de electricistas, torneiros, carpinteiros, marceneiros,
pintores, estucadores, e se certificassem aqueles que os concluíssem. Macau
precisa deste tipo de mão-de-obra especializada, e de fiscais devidamente
formados. Posso imaginar que as associações dos patos bravos possam ser contra.
Mas, como
dizia António Aleixo: "a razão, mesmo vencida, não deixa de ser
razão".
Por isso
esta fotografia me inspira como cidadão. Nela constato uma enorme qualidade de
acabamentos, um lacado azul matte, uma cantaria bujardada de forma perfeita,
azulejos que se organizam em esquadria perfeita. Em tudo a limpeza, a ordem e o
bom gosto.
E, numa cidade pequenina como Macau seria tão fácil haver bons profissionais, com bom gosto, bem dirigidos.
ResponderEliminarAssim houvesse vontade e imaginação.
Venha de lá essa Torre Eiffel :(
Um abraço