terça-feira, 27 de outubro de 2015

O AZUL, O SABER E O BRIO


A ignorância não é um argumento.

Nem todos os textos nascem para a literatura, porque esse não é nem o seu objectivo nem a sua natureza. São textos operários, de obra. Servem sobretudo para revelar as insuficiências urbanas, oferecendo soluções e, assim, almejar para que a cidade melhor se qualifique.
Em Cidadania o geral importa tanto quanto o detalhe, porque também aí habita a qualidade. Quase sempre a qualidade casa-se com a auto-exigência do mais ínfimo pormenor.
É assim que o saber de cada métier é, como em tudo na vida, fundamental. Mesmo que alguns achem que são minudências.
Vem isto a propósito de, um dia destes, no piso de um edifício novo, onde nasce um saguão, por queixa do vizinho do andar de baixo onde pingava água - mas que bem construídas são certas casas novas de Macau - entrarem pela porta dentro alguns operários para resolverem a situação. Nada mais simples. Desataram a escavacar todo o piso e, de permeio, rebentaram a canalização e  um cabo de electricidade. Assim, à bruta, tudo a eito!
Num outro local,  em obras de reparação, com pó por todo o lado, chega a brigada da pintura. Sem limpeza prévia do espaço, foi tudo à frente, desatando a pintar por cima de toda a sujidade. Chamado o encarregado, diz que não é com ele. É assim! Uns pintam, outros lavam as mãos.
Perante estes casos demonstrativos de que, há muito, a mão de obra de qualidade, daquela que sabia fazer toda a espécie de trabalhos de construção, foi substituída por gente que não sabe ou não quer saber e parece nunca ter ouvido falar de brio profissional.
Há duas formas de ganhar a malga de arroz: com desinteresse e desconhecimento ou com saber.
Os chamados operários não têm qualquer formação específica, sendo a maioria proveniente do outro lado da fronteira. Os disponíveis ao cidadão comum são maioritariamente os que não conseguiram trabalho no Cotai.
Seria de enorme mais valia que se criasse uma Escola Técnica e se abrissem cursos de formação profissional de electricistas, torneiros, carpinteiros, marceneiros, pintores, estucadores, e se certificassem aqueles que os concluíssem. Macau precisa deste tipo de mão-de-obra especializada, e de fiscais devidamente formados. Posso imaginar que as associações dos patos bravos possam  ser contra.
Mas, como dizia António Aleixo: "a razão, mesmo vencida, não deixa de ser razão".
Por isso esta fotografia me inspira como cidadão. Nela constato uma enorme qualidade de acabamentos, um lacado azul matte, uma cantaria bujardada de forma perfeita, azulejos que se organizam em esquadria perfeita. Em tudo a limpeza, a ordem e o bom gosto.

1 comentário:

  1. E, numa cidade pequenina como Macau seria tão fácil haver bons profissionais, com bom gosto, bem dirigidos.
    Assim houvesse vontade e imaginação.
    Venha de lá essa Torre Eiffel :(
    Um abraço

    ResponderEliminar