CHARLES LANDRY
Planeando criatividade, cultura e cidades, muitas vezes
leva a visões limitadas e sensacionalistas, em que os criativos culturais são
vistos principalmente de um ponto de vista económico. Isto é uma pena, diz
Charles Landry, para a cultura é muito mais do que o valor económico ou o
aumento das indústrias criativas. Landry apela para que uma cidade a use a
criatividade de muitos "para se tornar a melhor e mais imaginativa cidade
para o mundo - e não a cidade mais criativa do mundo".
Roy van Dalm
A cultura
não é uma transcendência, muito menos uma utopia. A cultura é a estrutura que
define o ser, que lhe dá maior abertura, maior capacidade de visão, educação e,
com isso, abrem-se as portas às imensas possibilidades e opções que se deparam
através do acto de pensar.
Charles
Landry, britânico, autor de "A Cidade Criativa", publicada no ano
2000, constitui um manual para planificadores urbanos. Landry vê a necessidade de
um pensamento novo e culto e o subsequente recurso à criatividade de muitos
para resolver questões importantes da cidade. Não é uma história económica,
portanto, mas antes uma chamada para uma visão cultural mais ampla.
Sucede que
uma das verdades menos consideradas é que ignorância é não se saber que não se
sabe, tanto quanto o grosseiro não sabe que é mal-educado. Sendo verdades de La
Pallisse não constituem evidências suficientemente assertivas para se
constituirem em metáforas do que há a combater.
Charles
Landry, como tantos outros, passará por Macau, para um painel integrado no
"This is my City", a ter lugar no Centro de Design de Macau.
Diria que
é um dos palcos possíveis, mas gostaria, enquanto cidadão de Macau, que Charles
Landry e todo o painel, também falassem para toda a cidade, via televisão.
Gostava que houvesse em Macau um Centro do Pensamento Contemporâneo, que
precede e alimenta a criatividade, rasgando-lhe horizontes em permanente
diálogo.
A
cidadania não é um B.I.R. nem uma burocracia que define o permanente e o
temporário. A cidadania é, também, a chamada dos mais habilitados,
independentemente da proveniência, raça ou credo, para integrarem a cidade
desejada, ainda por acontecer.
Carles
Landry passará por Macau. Quanto do seu saber será aproveitado?
Já por
mais de uma vez tive oportunidade de escrever que uma cidade é um organismo
vivo, orgânico, um lugar consequentemente holístico, onde uma acção se
repercute em todo o tecido urbano e humano.
Macau tem
todas as possibilidades, ainda, de se converter numa cidade criativa, se houver
visão e vontade política.
Não
existe, infelizmente, na desumanização da cidade, uma teia de afectos que até
Confúcio prescrevia. Existe apenas o egoísmo da sobrevivência, o todo
excessivo, seja na construção, seja no trânsito, ou nas ruas tornadas metáforas
do caos.
O contexto
singular de Macau, característica antiga que situa ainda hoje a cidade ao nível
da excepção e não da regra, radica fundamentalmente o seu estatuto numa relação
de conveniência pragmática, compromisso que permitiu a consolidação da sua
essência conjugadora entre dois mundos.
A nova
realidade de Macau é um processo ainda por concretizar na definição política
que lhe foi conferida, de centro mundial de turismo e lazer. Só o poderá ser
verdadeiramente se a amálgama de todos os problemas urbanos forem resolvidos, se
existir uma matriz estruturada para acolher este desígnio.
Perante
esta indesmentível constatação, importa extrapolar um conceito que há mais de
duas décadas venho defendendo, tendo em conta que uma parte da população de
Macau é transitória:
o da
consolidação de um polo referenciador e aglutinador das diversas comunidades em
presença e que tenha como referência a percepção da Cidade, a relação
supra-linguística, a recíproca interpretação cultural, num processo de plena
abertura para com o Outro, tanto naquilo que o assemelha como naquilo que o
distingue.
É na teia
de relações e afectos ainda improváveis, que a Cidadania – enquanto também
identidade – se pode consolidar na sua plenitude, permitindo então a aplicação
plena da abordagem cultural na Cidade Criativa.
A questão
da cidadania sempre me foi particularmente cara pelo que comporta de implícito
compromisso, e também porque Macau, integrado no segundo sistema, tão inteligentemente
concebido por Deng Xiao Ping, constitui parte integrante. Vislumbro aqui a
formulação do segundo sistema como um acto de política eminentemente criativa, inicialmente
destinado, como se sabe, a operar a progressiva transformação do interior da
China pelo efeito de capilaridade de que a criação de zonas económicas
especiais e de regiões administrativas especiais, todas situadas na orla
marítima, são instrumentos fundamentais.
Porém,
cidades como Shenzhen, nascidas do nada, já desempenham importantes papéis no
que toca à estruturação urbana, cívica e de experimentação que urge observar e
reflectir.
Se o
figurino urbano de Macau mudou radicalmente desde a sua criação, a sua essência
de cidade-estado mantém-se subjacente e inalterada, independentemente do seu
estatuto político. E é neste figurino que se joga o êxito ou insucesso não
apenas da organização da cidade, mas da interpretação e cumprimento do desígnio
que Pequim outorgou à R.A.E.M. Ou seja, ou a cidade se torna globalmente culta
ou os designios não se concretizam, porque a cultura é o pressuposto
fundamental.
Uma questão constantemente debatida mas ainda sem solução - as pessoas passam em Macau mas depois fica pouco do seu contributo na cidade.
ResponderEliminarBoa semana