quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A BOLA DE RUBICK


Escrever invocando o cubo de Rubick remete-me para a quadratura do círculo.
Associo em seguida o círculo à bola e depois ao facto de termos ganho o Europeu e ao novo e improvável Ederói, que até tem psicóloga e tudo, a atestar que Freud tinha razão tanto quanto Morris, aquele do “Macaco Nu” e da “Tribo do Futebol”.
O que é certo é que andamos ufanos, e não apenas do futebol. Também do hóquei em patins, da canoagem, do triplo salto, e da meia maratona, do bronze de Telma Monteiro e mais tudo o que vier.  Um bem haja ao nosso Presidente, pois agora as comendas não são de favor, mas de mérito.
E porque somos um país de treinadores de bancada – tanto se fala, opina e discute – no sector vai grassando algum desemprego, tanto quanto ao nível de jogadores.
Mas agora ninguém nos cala. Sabemos mais de bola do que o Beckenbauer, o Mourinho, o Simeone, o Jesus, Sir Alex Ferguson e, naturalmente, o Rui Vitória. Somos os maiores e cada qual invoca a contribuição que deu para o Europeu. No fundo, bem lá no fundo, regozijamo-nos porque fizemos aos franceses o que os gregos nos fizeram.
Enquanto em Portugal, campeonato à porta, a dança das contratações continua, em Macau, onde não há qualquer círculo sobre o tema, mas apenas uma quadratura, vai-se fazendo um campeonato de futebol de sete, um campeonato de futsal para temperar e, por fim, um campeonato de futebol de onze, na esperança de pensar que se pode jogar todas estas modalidades com os mesmos jogadores. Quem decide considera que os pisos não têm importância, que tanto faz, o que para o futsal é evidente. E eu, que até me fio na virgem, acredito que não devemos desesperar e que, mais depressa que um milagre, ainda se jogará futebol de praia numa qualquer estrada alcatroada.
Os fardamentos, o futebol, as casas de banho públicas e, segundo Agustina Bessa Luís, os índices de criminalidade sempre foram componentes denotativas do nível de desenvolvimento de cada país, região ou paróquia.
Portugal na última Taça do Mundo teve quatro treinadores presentes, o que indubitavelmente atesta da qualidade dos “misters” portugueses. José Mourinho, por exemplo, entrou já a facturar no Manchester United contra o campeão Leicester. O seleccionador português, Fernando Santos, conduziu o país à vitória no Europeu. Leonardo Jardim, depois de uma época no Sporting, treina o Mónaco, Marco Silva, Vítor Pereira, Carlos Carvalhal e a lista continua por Inglaterra, Itália, Turquia, entre outros. Agora, a selecção olímpica, pela mão de Rui Jorge, já bateu a Argentina e as Honduras e está, pode já dizer-se, nos quartos de final.  
Em Macau, por insondáveis razões, a Associação de Futebol que, em passado recente, tinha um japonês a comandar as hostes do território, recorre agora à boa prata da casa, não depositando em mãos lusas os destinos da formação do território. Há quem sussurre que é por xenofobia, mas eu não acredito. Em registo de brevíssima reflexão, diz um amigo meu que a explicação reside em Macau haver demasiadas pérolas, a começar pelo braço do delta, o que a meu ver tem fundamento.
Já o mesmo não acontece com as equipas do primeiro sistema, talvez por falta de ostras.  Compreende-se. Contratam, assim, Sven Goren Eriksson, Marcelo Lippi, Scolari, e tantos outros nomes.
Resolver o cubo de Rubick é, para quem não sabe, um quebra-cabeças e, para quem sabe, uma questão de segundos.
Em futebol há uns que pensam e outros que organizam. A título de exemplo, o modesto Clube Foz, numa zona do Porto,  à semelhança de tantos e tantos clubes que em Portugal militam nas divisões secundárias, tem um excelente relvado sintético – opção de quem sabe e não precisa de ostentar – torres de iluminação e umas bancadazitas, que enchem.
Enfim, agora como campeões europeus de séniores, de sub-dezassete, de hóquei em patins, de judo, de meia maratona, de canoagem, de triplo salto, e o mais que vier, temos alguma autoridade para dizer que sabemos do que falamos. Muitas vezes dá deus – ou mais certamente alguém em seu lugar – nozes a quem não tem dentes ou, noutra expressão idêntica, só quem tem unhas é que toca guitarra.
Em Macau, nestas coisas do desporto de recinto, temos assistido ao sucesso do hóquei em patins do Lisboa e do Presidente Aguiar, que honram a R.A.E.M. porque simplesmente sabem. Desde sempre se percebeu que o conhecimento, em qualquer área, é mais valioso do que o dinheiro, porque embora este possa dar acesso àquele, prefere-se assobiar para o lado.