sexta-feira, 21 de julho de 2017

A CONDIÇÃO DO MACAENSE


CELEBRANDO A DIFERENÇA

Enquanto macaense estou, desde sempre, resolvido em termos de identidade. Sou primeiramente português e depois, macaense. Português porque, geograficamente, serei uma das máximas extensões da portugalidade, coisa que poucos entendem. Macaense porque aqui nasci, daqui são aos meus pais e avós, num caminho que ascende a oito gerações. Daqui são os meus filhos e netos, o que os torna na nona e décima gerações. Por mim nunca falaria do macaense por necessidade, porque sendo-o, nada mais preciso de dizer. 
Porém a condição de macaense leva-me a solidarizar-me e, também, a buscar compreender os meus conterrâneos, agora na pessoa de Elisabela Larrea.
Sempre disse que ser-se macaense é pertencer a uma nação de indivíduos genéticamente falando. Nenhum de nós é igual ao outro. Cada indivíduo é uma história genética.
O que nos une e nos distingue, é não apenas o amor a Macau mas o modo como amamos Macau. Finalmente existe a contingência da geração, isto é, da Memória.
O que Elisabela nos diz é que gostaria de vivenciar mais o Passado, a memória dos dias vividos também com os avós, numa Macau irretornável. Eu transporto essa memória de acordo com os anos que tenho.
Reencontramo-nos quando ela se dedica ao Namyaam, esse som da China Meridional, o canto em cantonense. Recordo-me quer dos Thunders e dos Grey Coats, quer de Yam Kin Fai, Ng Kwan Lai, Fóng In Fan
Do berço, eu e ela, separados geracionalmente, falamos português, inglês e cantonense. Ela escreve chinês, eu não. Mas esta condição de conjugação de dois mundos potencia-nos para o universalismo, porque esta é a condição mais poderosa do macaense. Ser capaz não apenas de conjugar mundos, mas também de existir no mundo. 
Cabem nesta nossa condição o direito às diferenças, às opções culturais, ao modo como as manifestamos, pois é na diversidade que se manifesta a riqueza do ecletismo macaense. Ser-se mais português ou mais chinês é uma escolha ditada pelas circunstâncias, mas é na língua de que (Elisa)Bela se refere que reside o importante ancoradouro do macaense.
Sendo o Porto a minha segunda cidade, procurei estudar os Portuenses, gostar do seu sotaque, da cidade, da sua aprazibilidade que me recorda tempos idos de Macau. A minha primeira adolescência foi passada num colégio na linha do Estoril, assim como a juventude pós serviço militar. Amei Lisboa como amo o Porto e como amo a minha terra.
Creio que eu e a Bela, e todos os meus conterrâneos gostariamos que as outras comunidades se intercomunicassem, se não fechassem em si. 
Ser-se Macaense é também ser-se esse elemento conjugador entre comunidades que existem na terra que também é nossa. Porque na partilha é que está o enriquecimento das vivências de todos quantos aportaram a esta generosa terra.
Quando se existe aqui confinado apenas a uma comunidade,  existe-se numa perda dos dias por aqui vividos. 



Sem comentários:

Enviar um comentário