quinta-feira, 27 de julho de 2017

ÉTICA SABEDORIA E DIGNIDADE


O verdadeiro conhecimento é sabermos a extensão da nossa ignorâcia.
O homem superior compreende o que é correcto. O homem inferior compreende só o que lhe é benéfico.
Confúcio

Obediência não é, ao contrário do que muitos pensam, uma mera virtude Confucionista, porquanto a obediência cega representa a erradicação do próprio pensamento ou opinião (quando existente), deixando de ser obediência para se transformar em servidão.
As ideias contidas no Li Ji ou Lai Kei em Cantonense, sendo "Li" o Rito no sentido mais amplo da palavra, incluíndo a cortesia da natureza humana, da ética e das normas comportamentais conducentes a uma ordem social harmónica, parece terem chegado até aos nossos dias mal entendidas ou mesmo ignoradas na sua essência.
O próprio Confúcio, quando fazia perguntas num templo, na sua terra natal de Qu Fu, em Shandong, foi interpelado por outro visitante: "é este o sábio Confúcio que anda a fazer perguntas pelo templo?" ao que o Mestre retrucou " perguntar também é parte do Li (ritual)".
Contudo não deixa de ser interessante constatar que além do Li Ji ou Lai Kei, os Analectos constituem uma fonte de sabedoria e bom senso que deveriam ser do conhecimento de todos os chineses, independentemente do seu local de origem, porque o conhecimento da cultura e história pátria são determinantes no estabelecimento das identidades.
Os Analectos ou Lon Yu contêm um grupo de termos-chave cujo significado parece ser tão subtil quanto sábio e complexo, pelo que se afigura melhor deixá-los sem tradução, usando-se apenas a transcrição fonética para eles. Eis alguns exemplos:
Ren - uma virtude ética abrangente: benevolência, humanidade, bondade. 
Junzi 君子 - Confúcio definiu este termo com o conceito do Homem Superior, ético. Foi a partir do conceito de Junzi que, mais tarde, o termo equivalente "nobre" passou a ter outra conotação, permitindo que todos pudessem aceder ao mandarinato pelo estudo dos clássicos. Estava assim lançada a rampa para a meritocracia.
Li 禮 - termo que abrange as normas de disciplina e conduta pessoal,  às relações  diárias até ao protocolo político e aos cerimoniais. 
Virtude (de ) - conceito chinês muito complexo, que se pode dizer que se  desenvolveu para um termo ético que denota a inclinação para a acção moral.
Cultura (wen ) - denotando uma relação com características da civilização que são representativas da cultura de Zhou de que Confúcio era proveniente. 
Direito / Justiça (yi ) - muitas vezes um complemento para ren, denotando escolhas de acção correctas, ou a visão moral que permite que elas se operem.
Lealdade (zhong ) - denota não apenas lealdade para com os superiores ou pares. No fundo um alinhamento do indivíduo com os interesses do grupo social como um todo, jamais em proveito próprio.
Por fim, Zūnyán  (尊严) significa dignidade, a qualidade de quem é digno, de quem é honrado, exemplar, que procede com decência, com honestidade. Um Homem Superior é necessariamente digno.
No Ocidente a dignidade de alguém representa a sua “integridade moral”. 
Kant definiu a dignidade como o valor de que se reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, que não é passível de ser substituído por um equivalente.
Dessa forma, a dignidade é uma qualidade inerente aos seres humanos enquanto entes morais e éticos.
Assim, nesta visitação ao lado Chinês dos valores interculturais em que por aqui vivemos, concluir-se-á que, ao que aspira a ser Zunji (君子), cumpre muitas vezes valorizar a sua integridade moral e o respeito por si mesmo.  
Assim aconteceu na multi-milenar história da China, onde ministros se mataram em protesto contra as decadências de algumas dinastias.

1 comentário:

  1. Fico sempre encantada com a riqueza dos ensinamentos que nos trazes. Obrigada, inefável amigo.

    ResponderEliminar