No sábado, dia 5 de Outubro, a
República Popular da China entregou às autoridades da Região Administrativa
Especial de Macau, vulgo RAEM, um dos sequestradores de Jorge Neto Valente, Presidente da Associação de Advogados de Macau que, em 2001, foi raptado por um grupo armado e ferido com um tiro numa coxa.
Curiosamente, esta medida da R.P. da China vem no sentido inverso da contestadíssima proposta da Chefe de Executivo de Hong Kong,
Carrie Lam, àcerca da criação de um acordo de extradição entre a Região Administrativa Especial de Hong Kong, RAEHK, e a República Popular da China, situação
que deu origem aos primeiros protestos de cerca de dois milhões de habitantes de
Hong Kong.
Porém, e porque este escrito se
insere num blogue que poderá ter memória futura, em breve, os chamados
democratas – jovens habitantes de uma cidade onde a maioria viveu e
vive numa servidão ao sistema liderado pelos grandes capitalistas locais como Li Ka Shing, embalando sonhos
de uma casa e uma vida em condições que não têm, courtesy of the British colonial system – dão continuidade aos protestos, agora
exigindo democracia e, mesmo, independência para o território.
Breve se tornou numa revolta caótica
onde difícil se torna encontrar o fio à meada quando a juventude desce à rua e
inicia verdadeiras batalhas campais, destruindo quase tudo à sua passagem, incendiando
estações de metro e entrando em guerra aberta contra a polícia. De permeio,
canta-se o hino americano, agitam-se bandeiras americanas e dos colonos
ingleses e queima-se a bandeira da República Popular da China, a nação tutelar de que Hong Kong faz parte intrínseca.
O caos instala-se quando a razão
de qualquer reivindicação se perde pelo uso da violência, tantas vezes
excessiva. Após mais de 14 semanas de distúrbios, os jovens democratas de cara
coberta, que lançam cocktails molotov contra a polícia, acusam-na de ter ferido
gravemente, a tiro, dois jovens, um deles de 14 anos, em consequência do alto
grau de vandalismo que as manifestações e os protestos atingiram.
A disrupção do aeroporto
Noutra geografia, por protestos
reclamando serviços básicos, empregos e água potável, cerca de 100 iraquianos foram mortos
e mais de 4.000 são feridos. Estaremos perante uma avaliação com dois pesos e duas medidas?
Entretanto noticia-se que “A Alta-Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet
manifestou preocupação com o elevado nível de violência das últimas
manifestações em Hong Kong e frisou que todas as medidas para controlar a
situação devem respeitar a lei.
A noite de hoje
foi marcada por violentos distúrbios associados aos protestos contra uma lei
que impede o uso de máscaras pelos manifestantes.
“Estamos
preocupados com o nível elevado de violência atingido em certas manifestações
nos últimos dias.
A responsável
lamentou os ferimentos sofridos por polícias, manifestantes e jornalistas
durante os distúrbios e frisou ‘condenar firmemente todos os atos de violência,
venham de onde vierem’.
Questionada sobre
a lei que proíbe o uso de máscaras em manifestações, Bachelet disse que ‘qualquer
restrição deve ter um fundamento legítimo, respeitar a lei e ser proporcionada’.
‘Na medida do possível, a liberdade de se reunir
pacificamente [...] deve ser exercida sem restrições. Mas por outro lado, não
podemos aceitar que pessoas utilizem máscaras para provocar a violência’,
afirmou.”
E enquanto teatros de batalhas
entre autoridades e partes da população recebem atenções diferentes pela
imprensa internacional, no Iraque pós Saddam morre-se com demasiada facilidade, na
Venezuela, Maduro e Guaidó desapareceram da cena internacional, enquanto Hong
Kong é o filme do momento, com o mundo à espera que o caos, o ataque ao
aeroporto, a destruição de estações de metropolitano e outros actos de vandalismo
façam a China precipitar-se para um desfecho que, atrevo-me a alvitrar, não irá
acontecer, porque a RPC possui sabedoria milenar e porque sabe que todo este processo acabará por se tornar autofágico.
Só falta saber quem está
realmente por detrás de tudo isto, se isto é um jogo de sombras e marionetas,
ou se é apenas o que se vê.
Por mim, desconfio. Prefiro
esperar para ver...
Entretanto os media
internacionais vão escolhendo os próximos destinos da nossa atenção.