quinta-feira, 27 de julho de 2017

ETHICS WISDOM AND DIGNITY



True knowledge is knowing the extent of our ignorance.
The superior man understands what is right. The inferior man understands only what is beneficial to him.
Confucius

Obedience is not, contrary to what many think, a mere Confucian virtue, since blind obedience implies the eradication of one's own thought or opinion (when it exists), transmuting from obedience to servitude.

The ideas contained in Li Ji or Lai Kei in Cantonese, being "Li" the Rite, in the broadest sense of the word, including the courtesy of human nature, ethics, and behavioral norms leading to a harmonious social order seem to have reached our days misunderstood or even ignored in its essence.

Confucius himself, when asking questions in a temple in his hometown of Qu Fu in Shandong, was challenged by another visitor: "Is this the wise Confucius who is asking questions in the temple?" To which the Master replied "to ask questions is also part of Li (ritual)."

However, it is interesting to note that in addition to Li Ji or Lai Kei, the Analects are a source of wisdom and common sense that should be known to all Chinese regardless of their place of origin because knowledge of culture and history are decisive in establishing identities.

The Analects or Lon Yu contain a group of key terms whose meaning seems to be as subtle as wise and complex, so it seems best to leave them untranslated, using only the phonetic transcription for them. Here are some examples:

Ren - a comprehensive ethical virtue: benevolence, humanity, kindness.

Junzi 君子 - Confucius defined this term with the concept of the Superior, ethical Man. It was from the concept of Junzi that later the term "noble" came to have another connotation, allowing everyone to access mandarinate through the study of the Classics. The ramp for meritocracy was thus thrown.

Li 禮 - term that covers the norms of discipline and personal conduct, the daily relations until the political protocol and the ceremonial ones.

Virtue (of ) - a very complex Chinese concept, which can be said to have developed into an ethical term denoting the inclination to moral action.

Culture (wen ) - denoting a relationship with civilization characteristics that are representative of Zhou's culture of which Confucius was derived.

Law / Justice (yi ) - often a complement to ren, denoting correct choices of action, or the moral vision that allows them to operate.

Loyalty (zhong ) - denotes not only loyalty to superiors or peers. At bottom an alignment of the individual with the interests of the social group as a whole, never for their own benefit.

Finally, Zūnyán (尊严) means dignity, the quality of one who is worthy, of who is honored, exemplary, who proceeds with decency, with honesty. A Superior Man is necessarily worthy.

In the West, the dignity of someone represents their "moral integrity."

The philosopher Emmanuel Kant defined dignity as the value of everything that is priceless, that is, that can not be replaced by an equivalent.

In this way, dignity is an inherent quality of human beings as moral and ethical entities.

Thus, in this visitation to the Chinese side of the transcultural values ​​in which we live here, it will be concluded that Zunji (君子) aspires to often value his moral integrity and respect for himself.

This is what happened in China's multi-millennial history, where ministers killed themselves in protest against the decay of some dynasties.

ÉTICA SABEDORIA E DIGNIDADE


O verdadeiro conhecimento é sabermos a extensão da nossa ignorâcia.
O homem superior compreende o que é correcto. O homem inferior compreende só o que lhe é benéfico.
Confúcio

Obediência não é, ao contrário do que muitos pensam, uma mera virtude Confucionista, porquanto a obediência cega representa a erradicação do próprio pensamento ou opinião (quando existente), deixando de ser obediência para se transformar em servidão.
As ideias contidas no Li Ji ou Lai Kei em Cantonense, sendo "Li" o Rito no sentido mais amplo da palavra, incluíndo a cortesia da natureza humana, da ética e das normas comportamentais conducentes a uma ordem social harmónica, parece terem chegado até aos nossos dias mal entendidas ou mesmo ignoradas na sua essência.
O próprio Confúcio, quando fazia perguntas num templo, na sua terra natal de Qu Fu, em Shandong, foi interpelado por outro visitante: "é este o sábio Confúcio que anda a fazer perguntas pelo templo?" ao que o Mestre retrucou " perguntar também é parte do Li (ritual)".
Contudo não deixa de ser interessante constatar que além do Li Ji ou Lai Kei, os Analectos constituem uma fonte de sabedoria e bom senso que deveriam ser do conhecimento de todos os chineses, independentemente do seu local de origem, porque o conhecimento da cultura e história pátria são determinantes no estabelecimento das identidades.
Os Analectos ou Lon Yu contêm um grupo de termos-chave cujo significado parece ser tão subtil quanto sábio e complexo, pelo que se afigura melhor deixá-los sem tradução, usando-se apenas a transcrição fonética para eles. Eis alguns exemplos:
Ren - uma virtude ética abrangente: benevolência, humanidade, bondade. 
Junzi 君子 - Confúcio definiu este termo com o conceito do Homem Superior, ético. Foi a partir do conceito de Junzi que, mais tarde, o termo equivalente "nobre" passou a ter outra conotação, permitindo que todos pudessem aceder ao mandarinato pelo estudo dos clássicos. Estava assim lançada a rampa para a meritocracia.
Li 禮 - termo que abrange as normas de disciplina e conduta pessoal,  às relações  diárias até ao protocolo político e aos cerimoniais. 
Virtude (de ) - conceito chinês muito complexo, que se pode dizer que se  desenvolveu para um termo ético que denota a inclinação para a acção moral.
Cultura (wen ) - denotando uma relação com características da civilização que são representativas da cultura de Zhou de que Confúcio era proveniente. 
Direito / Justiça (yi ) - muitas vezes um complemento para ren, denotando escolhas de acção correctas, ou a visão moral que permite que elas se operem.
Lealdade (zhong ) - denota não apenas lealdade para com os superiores ou pares. No fundo um alinhamento do indivíduo com os interesses do grupo social como um todo, jamais em proveito próprio.
Por fim, Zūnyán  (尊严) significa dignidade, a qualidade de quem é digno, de quem é honrado, exemplar, que procede com decência, com honestidade. Um Homem Superior é necessariamente digno.
No Ocidente a dignidade de alguém representa a sua “integridade moral”. 
Kant definiu a dignidade como o valor de que se reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, que não é passível de ser substituído por um equivalente.
Dessa forma, a dignidade é uma qualidade inerente aos seres humanos enquanto entes morais e éticos.
Assim, nesta visitação ao lado Chinês dos valores interculturais em que por aqui vivemos, concluir-se-á que, ao que aspira a ser Zunji (君子), cumpre muitas vezes valorizar a sua integridade moral e o respeito por si mesmo.  
Assim aconteceu na multi-milenar história da China, onde ministros se mataram em protesto contra as decadências de algumas dinastias.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

A CONDIÇÃO DO MACAENSE


CELEBRANDO A DIFERENÇA

Enquanto macaense estou, desde sempre, resolvido em termos de identidade. Sou primeiramente português e depois, macaense. Português porque, geograficamente, serei uma das máximas extensões da portugalidade, coisa que poucos entendem. Macaense porque aqui nasci, daqui são aos meus pais e avós, num caminho que ascende a oito gerações. Daqui são os meus filhos e netos, o que os torna na nona e décima gerações. Por mim nunca falaria do macaense por necessidade, porque sendo-o, nada mais preciso de dizer. 
Porém a condição de macaense leva-me a solidarizar-me e, também, a buscar compreender os meus conterrâneos, agora na pessoa de Elisabela Larrea.
Sempre disse que ser-se macaense é pertencer a uma nação de indivíduos genéticamente falando. Nenhum de nós é igual ao outro. Cada indivíduo é uma história genética.
O que nos une e nos distingue, é não apenas o amor a Macau mas o modo como amamos Macau. Finalmente existe a contingência da geração, isto é, da Memória.
O que Elisabela nos diz é que gostaria de vivenciar mais o Passado, a memória dos dias vividos também com os avós, numa Macau irretornável. Eu transporto essa memória de acordo com os anos que tenho.
Reencontramo-nos quando ela se dedica ao Namyaam, esse som da China Meridional, o canto em cantonense. Recordo-me quer dos Thunders e dos Grey Coats, quer de Yam Kin Fai, Ng Kwan Lai, Fóng In Fan
Do berço, eu e ela, separados geracionalmente, falamos português, inglês e cantonense. Ela escreve chinês, eu não. Mas esta condição de conjugação de dois mundos potencia-nos para o universalismo, porque esta é a condição mais poderosa do macaense. Ser capaz não apenas de conjugar mundos, mas também de existir no mundo. 
Cabem nesta nossa condição o direito às diferenças, às opções culturais, ao modo como as manifestamos, pois é na diversidade que se manifesta a riqueza do ecletismo macaense. Ser-se mais português ou mais chinês é uma escolha ditada pelas circunstâncias, mas é na língua de que (Elisa)Bela se refere que reside o importante ancoradouro do macaense.
Sendo o Porto a minha segunda cidade, procurei estudar os Portuenses, gostar do seu sotaque, da cidade, da sua aprazibilidade que me recorda tempos idos de Macau. A minha primeira adolescência foi passada num colégio na linha do Estoril, assim como a juventude pós serviço militar. Amei Lisboa como amo o Porto e como amo a minha terra.
Creio que eu e a Bela, e todos os meus conterrâneos gostariamos que as outras comunidades se intercomunicassem, se não fechassem em si. 
Ser-se Macaense é também ser-se esse elemento conjugador entre comunidades que existem na terra que também é nossa. Porque na partilha é que está o enriquecimento das vivências de todos quantos aportaram a esta generosa terra.
Quando se existe aqui confinado apenas a uma comunidade,  existe-se numa perda dos dias por aqui vividos. 



THE MACANESE CONDITION


THE CELEBRATION OF DIVERSITY

As a Macanese, I have always been resolved in terms of my identity. I am Portuguese first and then Macanese. Portuguese because, geographically, I will be one of the maximum extensions of Portugal, something few outside of Macau understand. Macanese, because I was born here, from here are my parents and grandparents, on a path that goes back eight generations. This is the city where my children and grandchildren were born, making it ten generations. For my part, I would never speak of Macanese out of necessity, because being it, I have nothing more to say.
But the Macanese condition leads me to sympathize and also to seek to understand my countrymen, now in the person of Elisabela Larrea.
I  always said that being Macanese is belonging to a nation of genetically speaking individuals. Neither of us have the same genes as the other. Each individual is a genetic story. What unites us and distinguishes us is not only the love of Macau but the way we love Macau. Finally there is the contingency of generation, that is, of Memory.
What Elisabela tells us is that she would like to experience more of the Past, the Memory of the days spent with her grandparents, in an irreplaceable Macau. I carry this Memory according to my age.
We meet when she dedicates herself to Namyaam, the sound of South China, sang in Cantonese. I remember The Thunders and The Grey Coats as well as Yam Kin Fai, Ng Kwan Lai, Fóng In Fan. From the cradle, she and I, generationally separated, we speak Portuguese, English, Cantonese. She writes Chinese I do not. But this condition of bridging both worlds should lead us to universalism, because this is the most powerful condition of the Macanese. To be able not only to conjugate worlds, but also to exist in the world.
The right to differences, to cultural options, and to the way each of us manifest them, fall into our condition, for it is in diversity that the richness of the Macanese eclecticism is manifested. To be more Portuguese or more Chinese is a choice dictated by circumstances, but it is in the language of which (Elisa)Bela refers to that resides the important anchorage of the Macanese.
Being Porto my second city, I sought to study the Portuenses (people from Porto), love their accent, the city, its pleasurable environments that remind me of bygone days in Macau. My first adolescence was spent in a boarding school on the Estoril line, and later in Lisbon as a young man after military service. I love Lisbon as I love Porto and how I love my city of Macau.
I believe that I and (Elisa)Bela, and all my countrymen would like that other communities would intercommunicate more. To be Macanese is also to be that conjugative element between communities that exist in the land that saw our birth. Because it is in sharing that resides the enrichment of the experiences of all who contributed to this generous land.
When one exists here, confined to one community, one waists precious days of their lives.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

UMA MACAENSE CONFESSA


Elisabela Larrea é uma jovem de Macau, filha de mãe macaense de sétima geração e de pai  basco. As deambulações do pai, jogador de Pelota Basca, fizeram que nascesse em Milão.
Elisabela escreve e fala cantonense, mandarim, inglês e português. Faz parte do Grupo de Ópera Chinesa Au Kuan Cheong, interessa-se por Naam Yam (som do sul), ópera chinesa  e patois de Macau e venera e respeita o seu sifu chinês. O grupo dramático chinês de que é membro tem planos de levar à cena uma peça adaptada de um conto do livro Cheong Sam de Deolinda da Conceição.
Do avô materno, Vicente Honório Gomes Eusébio, ouviu histórias da Macau antiga. A avó, Maria Eusébio, era excelente cozinheira, passando-lhe o gosto pela gastronomia local. 
A jovem Elisabela prepara, de momento, o seu doutoramento em comunicação intercultural na Universidade de Macau, cujo tema central recai sobre o teatro creoulo Macaense. Entretanto, do seu curriculum já constam dois importantes trabalhos: 
Identidade Macaense na rede global: desempenho da identidade macaense na Internet. Documento de conferência apresentado no simpósio internacional sobre identidade nacional e futuras relações através do Estreito, em  Macau,R.A.E.M., China, de 2008, e
O Macaense na Rede Global: um estudo de desempenho da identidade cultural macaense pós-colonial, sua Tese de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade de Macau, também de 2008.
Elisabela Larrea é discreta e conhecê-la é descobrir um tesouro de interesses que merece ser revelado. 

Depois desta sua breve apresentação, como definiria ser Macaense?
Em minha modesta opinião, é identificarmo-nos orgulhosamente com a identidade Macaense, com a sua cultura e modo de vida. Há diferentes leituras do que é ser Macaense: através de ligações genealógicas, outras pelo uso da língua, porém, em última análise, o critério consistente destes argumentos é a ligação a Macau,  isto é, a identificação de Macau como o lugar das suas raízes. Somos filhos da terra, pertencemos a este solo. Somos a mistura de diferentes culturas e origens, com uma  singular cultura crioula  muito nossa.  A identidade Macaense é versátil, com mutações ao longo do tempo e envolvência social, contudo uma coisa permanece a mesma: Macau é a nossa casa.
O que a fez escolher estudar chinês e inglês em alternativa ao português?
Essa foi uma decisão tomada pela minha mãe quando eu era pequena. Do seu ponto de vista, era que eu deveria aprender línguas que não podia aprender em casa. Ela fala português e cantonense, mas não sabe ler e escrever chinês. Assim, quis que eu aprendesse  chinês e inglês na escola, uma vez que eu poderia aprender português em casa. Fazia com que eu assistisse diariamente ao noticiário português e encorajou-me a terminar os meus dez níveis de estudo de língua portuguesa no IPOR. Acredito que é essencial para um macaense aprender português para compreender e conhecer melhor as nossas raízes culturais e história, embora a nossa prática seja a de uma cultura portuguesa oriental.

Bela e o avô materno

Fala do seu avô com especial afecto. De que forma a sua influência pesou nas suas escolhas?
O meu avô adorava livros. As imagens que tenho dele são principalmente dele a ler um livro ou o jornal na sala de jantar, ou segurando uma National Geographic no seu quarto. O avô gostava de guardar recortes de jornais e registar ocorrências aleatórias em vários cadernos. Aleatórias no sentido de que podem ser o registo do boletim meteorológico do dia, os benefícios de certas vitaminas ou citações de figuras políticas. Guardei apenas um ou dois desses cadernos, mas que me permitem ter um vislumbre do passado. Ele gostava de passear pelas ruas de Macau com sua pequena sacola, onde guardava os óculos, um lápis, um jornal e um papel em branco. O seu amor à sua terra natal e o seu gosto pelo conhecimento levaram-me a decidir dedicar-me à preservação e promoção da nossa cultura.

Com um background tão enraizado na cultura macaense, como é que a música Naam Yam entrou na sua vida? 
Acredito que foi o destino que me levou ao Naam Yam. O meu primeiro encontro com a ópera chinesa deu-se quando ainda muito jovem. A minha avó levou-me a assistir a apresentações em Cheok Chai Yuen (Bairro da Horta da Mitra). Conheci há alguns anos Ho Chi Fong, um dedicado estudante do Professor de Naamyam, o Mestre Au Kuan Cheong.  Como local, não deveria perder qualquer oportunidade de saber mais sobre o nosso património intangível. As actuações e a personalidade do mestre Au Kuan Cheong fascinaram-me; a sua tranquilidade, humildade e carácter apaixonado serviram-me de modelo. Eu estava entusiasmada em poder aprender com ele. Outro motivo pessoal para ter querido aprender Naamyam foi a memória dos momentos passados com a minha avó e Macau antigo. É que durante as performances, sinto como que passo por uma porta do tempo e me conecto com o passado.

Falando da sua investigação sobre a cultura e identidade macaense, quer partilhar as conclusões do estudo acerca do desempenho da identidade cultural macaense no período pós-transição?
Não cheguei a conclusões, mas antes a uma constatação: a identidade macaense é versátil, depende do ambiente social e político envolvente. 
Somos filhos da terra, pertencentes a esta pequena terra, independentemente da soberania. No entanto, estamos sendo diluídos e engolidos culturalmente devido a factores como a globalização, emigração, mudanças demográficas, medidas administrativas, etc. A definição de Macaense no período de pré-transição não pode agora não ser aplicável. Por exemplo, os critérios convencionais que determinam a identidade macaense através do uso da língua portuguesa como língua matricial. Não há dúvida que os jovens macaenses têm um certo nível de proficiência em português, mas é esta a sua língua primeira? Outro exemplo será o critério de sangue. A segunda ou terceira geração podem não ter qualquer herança portuguesa, mas têm um sobrenome português, identificam-se como macaenses e seguem o modo de viver macaense, não serão eles também macaenses? Eu acredito que enquanto guardarmos a nossa identidade macaense, ninguém no-la pode tirar, a menos que optemos por a abandonar.

Enquadra-se  na definição que enunciou?
Acredito que não existe uma só definição para a identidade macaense. Tem havido muitas discussões entre a comunidade, eu só me vejo como uma simples macaense apaixonada por Macau.

Considera-se uma ponte entre comunidades?
Macau sempre foi um cadinho de culturas, juntando culturas diferentes e produzindo uma outra, singular. Acredito que cada um de nós pode ser uma ponte entre diferentes comunidades se escolhermos essa via, dedicando tempo e esforço para nos entendermos e nos respeitarmos mutuamente. Podemos atravessar os limites se estivermos dispostos a partilhar, ou seja, não apenas a ouvir e aprender, mas também a contar e a compartilhar. Se queremos que outras comunidades conheçam a cultura macaense, temos de falar sobre ela. Essa responsabilidade é nossa.

Acha que a população de Macau está a passar por uma crise de identidade? Se sim, porquê?
Eu diria que a crise de identidade está acontecendo em todas as comunidades, especialmente devido à forte influência da tecnologia e da globalização. A gastronomia  é um exemplo. A gastronomia permite transmitir práticas, valores e cultura tradicionais, o que tem uma influência significativa na construção da identidade. No entanto, a geração mais jovem de diferentes países opta pelo fast food global, reduzindo assim a oportunidade de construir a sua própria identidade cultural. Hoje, muitas pessoas optam por um modo de vida mais conveniente e fácil, e a cultura tradicional exige o contrário. Manter a cultura tradicional exige que dê do seu tempo, exige paciência, devoção e dedicação. O conforto e comodismo leva as pessoas a esquecerem a beleza do artesanato, o respeito pela cultura, valores e arte tradicionais. E essas "escolhas fáceis" levam gradualmente à crise da identidade, e temos que ter a iniciativa de lutar contra isso. Dá um grande consolo que muitos locais se esforcem por preservar a sabedoria de seus mais velhos, buscando manter a cultura tradicional dando assim continuidade à sua identidade cultural.


quarta-feira, 19 de julho de 2017

A SELF CONFESSED MACANESE


Elisabela Larrea is a young woman from Macao, the daughter of a Macao seventh-generation mother and a Basque father. The wanderings of her father,a Pelota Basca player, caused her to be born in Milan.
Elisabela writes and speaks Cantonese, Mandarin, English and Portuguese. She is part of the Au Kuan Cheong Chinese Opera Group, is interested in Naam Yam (southern sound), Chinese opera and Macau patois and venerates and respects her Chinese sifu. The Chinese dramatic group of which she is a member has plans to bring to the scene a piece adapted from a tale from the book Cheong Sam by Deolinda da Conceição.
Her maternal grandfather, Vicente Honório Gomes Eusébio, told her stories from ancient Macau. Her grandmother, Maria Eusébio, was an excellent cook, giving her a taste for local gastronomy.
The young Elisabela is currently preparing her doctorate in intercultural communication at the University of Macau, whose research theme is Macanese creole theater. However, there are already two important papers in her curriculum:
Macanese identity in the global network: performance of Macanese identity on the Internet. Conference document presented at the international symposium on national identity and future cross-strait relations in Macao, R.A.E.M., China, 2008, and
Macaense in the Global Network: a study of the performance of postcolonial Macanese cultural identity, a thesis presented to the Faculty of Social Sciences and Humanities of the University of Macau, also in 2008.
Elisabela is discreet and to know her is to discover a treasure full of interests that deserve to be revealed.

In your own personal case, how would you define being a Macanese?
In my humble opinion, being a Macanese is to proudly identify oneself with the Macanese identity, culture and its way of living.   There are many differed definitions of what a Macanese is, some through genealogical links, some through language use, however I believe that ultimately there is one consistent criteria among these arguments, which is the connection to Macau, i.e. identifying Macau as where their roots lie.  We are filhos da terra, belonging to this soil of Macau.  We are a mixture of different cultures and backgrounds, with a unique creole culture of our own.  Macanese identity is a versatile identity which changes over time and social environment, however one thing remains the same, i.e. Macau is our home.   

What made you choose studying Chinese and English instead of Portuguese?
This was a decision made by my mother when I was small. Her viewpoint was that I should learn languages I couldn’t learn at home.  She spoke Cantonese but couldn’t read nor write Chinese, so she wanted me to learn Chinese and English in school, since I can learn Portuguese at home.  She always made sure I would watch Portuguese news everyday, and encouraged me to finish my 10 levels of Portuguese language studies in IPOR.  I believe it is essential for a Macanese to learn Portuguese to understand more about our culture and historical background, as we practice an Oriental Portuguese culture. 

Elisabela and Grand father

How was your grandfather influence weighed in your choices?
My grandfather loved books.  My images of him were mostly either of him reading a book or newspaper at the dining room or holding a National Geographic magazine in his bedroom.  He liked to keep newspaper clippings and register random occurrences in his various notebooks. They are random in the sense it can be registration of daily weather, benefits of certain vitamins or quotes of political figures.  I could only keep one or two of these notebooks but it offered me a glimpse of the past.  He liked to wander around Macau streets with his little bag, carrying his glasses, a pencil, a newspaper and a blank paper in it.  His love to his homeland and attitude towards knowledge, led to my decision of dedicating to the preservation and promotion of our culture. 

How did Naam Yam came into your life? What did play an important role in your choice?
I believe it was fate that brought me to Naam Yam.  My first encounter with Chinese Opera was at a young age when my grandmother brought me to performances presented at Cheok Chai Yuen.   I met Ho Chi Fong, a devoted student of Naamyam inheritor Master Au Kuan Cheong a few years ago, and he told me last year that there was an introductory workshop for Naamyam. I thought to myself, as a local one should not forsake any opportunity to know more about our intangible heritages.   Master Au Kuan Cheong’s performances and personality mesmerized me; his tranquility, humility and passionate character served as a role model.  I was excited to be able to learn from him.  Another personal reason for my learning Naamyam is the memory I had with my grandmother and the Macau antigo (old Macau), during the performance, it felt as if I walked through a time-door and was able to connect to the past.

Would you share with us your main conclusions on your study about the post handover Macanese  cultural identity performance?
I do not have any conclusions, but an observation.  My observation is that the Macanese identity is a versatile one depending on social and political environment.  We are filhos da terra, belonging to this piece of small land in spite of sovereignty.   Yet, we are being culturally diluted and swallowed due to factors such as globalization, emigration, changes in population structures, administrative measures, etc.   The definition of Macanese in the pre-handover period might not be applicable now.  For instance, conventional criteria determining the Macanese identity would be through language use with Portuguese as the primary one.  There’s no doubt that younger Macanese do have a certain level of Portuguese proficiency, but is the language still their primary one? Another example would be the criteria of having Portuguese heredity.  Second or third generations of Macanese from converts might not have any Portuguese heredity but they bear a Portuguese surname, identify themselves as Macanese and follow Macanese way of living, are they not Macanese?  I believe that as long as we hold on to our Macanese identity, no one can take that away from us, unless we ourselves choose to let it go.

Do you see yourself under the definition that you stated?
I believe there is no one definition for Macanese identity.  There were many discussions among the community, I just see myself as a simple Macanese in love with Macau.   

Do you consider yourself a bridge between different communities?
Macau has always been a furnace for cultures, placing different cultures together and producing a unique one from it.  I believe that each of us can be a bridge between different communities if we choose too, by devoting the time and effort to understand and respect one another.   We can cross the boundaries if we are willing to exchange, i.e. not just by listening and learning, but also by telling and sharing.  If we hope to let other communities know about the Macanese culture, we have to tell them about it.  That is our responsibility. 

Do you think Macau population is having a general identity crisis? If yes, why?
I would say that identity crisis is happening in every community, especially given the strong influences of technology and globalization.  Take gastronomy for an example, it offers a chance of passing on traditional practices, values and culture, which has a significant influence on identity construction.   However, younger generation from different countries opt for global brand fast food, thus reducing the opportunity for building one’s cultural identity.  Many people nowadays opt for a more convenient and easy way of living, and traditional culture demands the opposite. It requires you to give time, patience, devotion and dedication.  For comfort and convenience sake, people forget about the beauty of handcraft, the respect for traditional cultures, values and art.  And these “easy choices” gradually leads to identity crisis, and we have to be the one taking initiative to fight against this.  It gives immense consolation that many locals are striving to preserve the wisdom of their seniors, striving to retain traditional culture, thus giving continuity to their cultural identity.   

Interview by António Conceição Júnior