Zhugue Liang, aliás Kong Ming
Zhugue Liang foi o mais importante estratega do
turbulento Período do Três Reinos da História da China, (220d.C. - 280d.C.), no
ocaso dos Han. O seu outro nome era Kong Ming, tendo-se celebrizado pelo modo
como liderou a estratégia do Estado de Shu, senhoreado por Lio Bei, contra os
Estados de Wu e de Wei, este último liderado por Cao Cao (leia-se Chou Chou).
Kong Ming era conhecido pelo epíteto de "dragão
escondido", pois os que o rodeavam desconheciam a sua capacidade de
protagonizar grandes feitos. Assim era o homem que é representado com vestes
taoistas e um leque de penas de ganso.
Liu Bei, um dos heróis do "Romance dos Três
Reinos" e descendente de um dos ramos da casa imperial dos Han, visitou-o
por três vezes, pedindo-lhe para ser o seu principal conselheiro e estratega.
Liu Bei teria 47 anos e Zhugue Liang, aliás Kong Ming, teria apenas 26, quando
ambos estabeleceram o reino de Shu, naquela que é hoje a província de Szechuan.
Na batalha dos Penhascos Vermelhos, Kong Ming recomenda a
Lio Bei que se alie a Sun Quan para derrotar o plano de Cao Cao de conquistar
toda a China.
O vento do
Oriente
A Batalha dos Penhascos Vermelhos começou com uma
escaramuça nas ditas rochas, seguida por um recuo para Wulin, nos campos de
batalha na margem noroeste do Yangtze, e finalizada por uma batalha naval
decisiva, com a desastrosa retirada de Cao Cao.
Cao Cao tinha acorrentado os seus navios uns aos outros,
com o objectivo de criar uma frente intransponível. Kong Ming percebeu que essa
força era também uma fraqueza, com o vento soprando de Oriente, isto é, contra
a frota acorrentada. O estratega utilizou ardilosamente o vento de Oriente, expressão
ainda hoje utilizada. Sob o pretexto de rendição, enviou sete barcos cheios de
material inflamável na sua direcção. Com vento pela popa, os sete navios rapidamente
chegam àquela frota estacionada no rio e, quando bem próximos, os poucos
tripulantes incendiaram os navios, fugindo em pequenos botes. O resultado foi um
incêndio de enormes proporções e a consequente destruição da frota de Cao Cao.
Eça escreveu que, no mundo, a não ser a China, tudo muda.
Não posso deixar de concordar, sobretudo quando lembro o ditado que diz que
"no rio Yangtze, a onda de trás empurra a da frente", significando
que as gerações devem suceder-se no fluir da história. Entre e longínquo Lio
Bei e o contemporâneo Xi Jing Ping, passaram muitos líderes, fazendo jus às
ondas do Yangtze.
A captura das
flechas
Desde a abertura da China ao mundo, quando Deng Xiao Ping
aplicou o princípio estratégico da "Fortaleza Vazia" e convidou o mundo
a aí ganhar dinheiro, e o Ocidente foi transformando a China na sua "fábrica",
mais uma vez se aplicou uma velha táctica de Kong Ming.
Faltavam cem mil flechas ao exército de Lio Bei antes das
primeiras escaramuças nos Penhascos Vermelhos e não havia como municiar o
exército. Kong Ming deu ordem para que, durante a noite, pequenos barcos fossem
enviados com "soldados de palha" até às proximidades dos navios de
Cao Cao. Incontáveis flechas voaram para atingir os inúmeros barquitos que, à
luz dos distantes archotes, lembravam intenções malévolas. Em pouco tempo as
flechas abundavam no campo de Lio Bei.
Hoje, a China não é apenas o maior mercado do mundo mas,
também o maior produtor doméstico. Que o digam, por exemplo, os telemóveis da
Huawei, da Vivo, Xiaomi, Umi, para citar só os maiores.
O dragão
Acordado
Napoleão Bonaparte, em 1816, terá dito "quando a
China despertar, o mundo tremerá". Em 1973, Alain Peyrefitte retoma a
frase na sua obra “Quando a China despertar”, numa feliz premonição de um
observador atento.
Enquanto a terra de Vespúcio e o velho continente se
procuram desenrolar da teia que criaram, paulatinamente a Oriente, o velho
Império do Meio dispõe de uma nova arma: mais de um milhão de bilionários,
encabeçados Jack Ma do Alibaba. Dando um salto para o 25o. Lugar do ranking dos
mais endinheirados, este é ocupado por Guo Gangchang, que adquiriu recentemente
a Thomas Cook, o Club Med, o Cirque du Soleil, o Hospital da Luz-Saúde
(ex-Espírito Santo Saúde) e o mais que se verá. Xu Jiayin, fundador do grupo
Imobiliário Evergrande, que detém 45.8 milhões de m2 de terrenos em 22 cidades da China. Xu Jiayin está instalado
em cem cidades do continente, diversificou os seus negócios para os painéis
solares, e detém o Guangzhou Evergrande, campeão de futebol da Superliga
chinesa. Aos bilionários, todos eles gente de grande visão como se pode ver, a
liderança considera-os os novos heróis desta nova e renovada China.
O país prepara-se para estar na linha da frente da
sustentabilidade e da ecologia. O tempo joga a favor da China. O Império Imóvel
move-se pausadamente, em passos gigantescos.
Perante todos estes cenários, perante todos os planos que
a já mais poderosa economia do mundo tem para os seus Territórios, pergunto-me qual
o verdadeiro desígnio para este minúsculo pedaço de terra, para esta pequena
cidade que habitamos, para este legado, esperando que tal como no Yangtze as
ondas de trás empurrem as da frente, seguindo o curso da natureza.